segunda-feira, setembro 27, 2010

HÁ VIDA




Há vida

O outono vem chegando ao norte
Com suas cores fortes e nostálgicas
A sul é a primavera que se instala
Com seu rol de alterações climáticas
É o tempo frio e seco no planalto
Com as dificuldades respiratórias
São as chuvas diluvianas inundando
E todo um desfilar de tristes histórias
Mas o planeta aquecido sobrevive
Se adapta e vai seguindo viagem
Por aí, através do espaço sideral
Há previsões do fim do mundo
Há arautos da desgraça anunciando
Que agora será mesmo o final
O homem não cuida da natureza
Dizem, mas as tentativas se multiplicam
E apesar das alterações climáticas
Ainda haverá esperança?
Há jovens perdidos há deriva?
Há bebés nascendo todavia
Há vida na cidade, há tristezas
Mas há também alegrias...
Há vida, afinal, vida a ser vivida...

Arlete Piedade

sexta-feira, setembro 24, 2010

AI MEU AMOR, MEU AMOR E MEU AMOR

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Caboverdeano é mesmo basofo, basofo
Olha lá amor, enquanto se morre em Kosofo
Eu cá brinco e de que maneira de embaixador!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Passamos tanto tempo a chorar, que seca
Das nossas penúrias e da prolongada secas
Se chover lamentamos as lamas... Que humor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Ainda tem duvidas que somos basofos
E julgas que estou com falsos desabafos
Temos cidades mil vazias e alto rumor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Olha o lixo que aquele visinho tem na porta
Foi colocado por outro vizinho, nada importa
Esta é a limpeza nossa, amor, transferência amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Com tanta coisa boa que Senegal tem
Copiamos o esgoto a céu aberto, temos também
Não é só em Dakar, em Lém Ferreira temos amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Nossa basofaria é grande e não tem limite
Só que ninguém nunca e nunca se admite
Somos mil pobres que helvéticos meu amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

E helvéticos têm metade e nós o dobro
Olha que para isto escrever, eu cobro,
De ministros meu amor, temos muitos amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Eu não fujo a regra geral das nossas regras
Estou no dez a tomar e a encher-te de palavras
Enquanto você meu amor espera meu beijo amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Basofaria não tem limite mesmo querida
Falar de beijo e amor e pacata e sedentária vida
Enquanto França expulsa ciganos meu Amor!

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Nós cá a içarmos a linda bandeira de desenvolvimento médio
Na Étiopia e não só na África a guerra e fome enchem de ódio
E de deslocados e de mutilados e mortes e de muito real terror

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Esta bosofaria nasceu conosco, eu, a revelia me fiz poeta
E agora, sem mandato, quero dar esta de ser também profeta
E dizer ou mudamos e matamos o mundo, amor que destemor!


Ai meu amor, meu amor e meu amor

Ainda vou mais longe e atreve e penso e imagino e digo
Que nossos filhos vão nos cobrar o que fizemos, isto é comigo?
Ai meu amor, isto é de profeta, prever certo futuro não é de embaixador...

Ai meu amor, meu amor e meu amor

Caboverdeano é assim, nasceu assim, basofo vai viver
E assim vai ufano e muito senhor de si mesmo morrer
Que Tu tenhas pena e nos perdoe, Tu Deus que és de tudo Senhor!


João Furtado

24 de Setembro de 2010

quinta-feira, setembro 16, 2010

PRIMEIRA CARTA A LIZITA




Para ti minha querida e amada filha
Que a sede da razão fez ir a Lisboa
Espero que estejas de saúde boa
Enquanto eu cá isolado fico na Ilha!

Não és a primeira a partir, minha querida bem
O primogénito Juanito foi há dez anos
E a esforçada Belma que tanta falta fizeram-nos
O Popas rebelde não se fez esperar também….

Mas tu me deixaste um vazio no coração
Não sei se por seres a mais recente
Ou por teres cá ficado como presente
Atenuante no momento de tanta preocupação!

Vezes sem conta tu tomaste a rédea a situação
E eu que mais me afadigado que resoluto…
Principalmente nos momentos de luta e luto
Me senti que és uma mulherzinha de acção!

A tua mãe não deve demorar o regresso
A casa irá ficar um pouco mais animada
A Nuna sempre a querer ser mimada
E tu longe procurando teu progresso!

Partiste agora e espero ver-te voltar em Dezembro
E o Popas, doce filhos para me alegrarem o coração
O Natal será mais alegre e será uma bela reunião
Por enquanto de coisas vossas boas me lembro

E rezo a Deus dos homens e dos Santos
Que vos iluminem nas vossas caminhadas
E que as maiores vontades vossas desejadas
Sejam coroadas de sucessos e de grandes êxitos!


João Furtado

Praia, 17 de Setembro de 2010

quarta-feira, setembro 15, 2010

EU E O MEU PARDAL NOVAMENTE

Eu te vejo muito tristonho
Meu belo pardal confidente e amigo
Tão calado estas tu que sempre falaste comigo
Tu que sempre entraste até no meu sonho...

Estou muito triste amigo João
Venho do Cabo das Esperanças
E na bagagem trago poucas esperanças
As baleias são mortas que dói o coração...

E na terra a vida dos pacíficos elefantes
Não está nada fácil, dizem que é o fim
Todo por motivo apenas dos dentes de marfim
O mundo esta a perder os últimos gigantes

Pardal o mundo sempre foi assim
Que te espanta agora de deferente
O Homem por ser sempre carente
Plantas e animais e até ele próprio dá o fim!

A minha tristeza é ver, meu amigo
A nossa pouca voz entre os humanos
De crimes acusados e condenados por anos,
Por defenderem o mundo do perigo!

João Furtado

Praia, 15 de Setembro de 2010

segunda-feira, setembro 13, 2010

A CHUVA, A BRISA E AS LAGRIMAS

A CHUVA, A BRISA E AS LAGRIMAS

Do céu a chuva rega a terra
Enquanto eu tento e faço
Este poema com pouca regra
Certo, certo... É teu todo meu espaço!

Feliz, sinto a terra inalando
O característico perfume natural
Enquanto tua ausência eu fico chorando
Sobre a lagoa da lágrima muito plural!

Ao longe um galo madrugador canta
Avisando a hora aos seus amores
E eu que só a tua beleza me encanta
Nem sinto na rua os efémeros rumores!

Uma brisa calma e suave
Chega até mim de mansinho
Tão discreta e tão leve...
Sinto nele teu desejado carinho!

Seco por dentro, no meu coração
E por lagrimas e chuva molhado por fora
Sinto alento nesta natural acção
E tu perto também, apesar dos embora...

João Furtado

Praia, 13 de Setembro de 2010

sexta-feira, setembro 10, 2010

CARTA AOS MEUS AMIGOS

Ao som madrugador dos pardais
Os amigos meus mais íntimos
E que sabem que a todos estimo
Escrevo e desejo saudações cordiais!

Bem nobre é a poética missão
E o teu esforço, diria titânico
Bem merece uma compensação
E brevemente não serei único!

Nas mãos tenho a biografia
Da esforçada e querida Edite
E espero pela fotografia
Morreu-lhe a avó infelizmente!

Espero que assim que se recomponha
Me envie a foto e os belos poemas
Cabo Verde não se envergonha
Iremos ser muitos, não temas!

De São Vicente culta Ilha
Tenho a Linda Poetisa, India Libriana
Ela não está jamais enganada
Nos belos poemas feitos se perfilha!

O meu grande amigo Abrão Sena
Não me consta que seja poeta
Mas se entre nesta pequena cena
É porque amigos tem com sempre comenta !

Não como eu, que sou seu amigo por sorte
Pequeno e insignificante catador de letras
Mas grandes tubarões de poética arte
Venha de lá tua ajuda de grande nas palestras!

Jorge, meu grande amigo de anos passados
Tu és homem de PAZ e de amizade
Não fiques de pensamentos atados
Solta-os e aceita entrar nesta irmandade!

Para ti poetisa Artemisa Ferreira
Uma ajuda de fundo do meu peito
Passa a invisível e pequena barreira
E faça o que tem que ser feito!

Ao Mundo garanto e a Ti, Meg Poetisa
Pela grande e esforçada dedicação
Se conseguir esta minha premissa
De nós os poucos entrarmos, os sagrados virão!

João Furtado
Praia, Cabo Verde

quinta-feira, setembro 02, 2010

Independencia do Brasil - 7 de Setembro

Independencia do Brasil – 7 de Setembro

Foi a 7 de Setembro de 1822 que ás margens do ribeiro Ipiranga, onde hoje é S. Paulo, que D. Pedro de Alcantara, príncipe regente do Brasil e herdeiro da coroa portuguesa, pronunciou aquele que viria a ser conhecido como “O Grito do Ipiranga” o célebre “INDEPENDENCIA OU MORTE!”, que marcou oficialmente o nascimento do Brasil, como nação independente.

O Brasil era uma colónia de Portugal, tendo sido descoberto oficialmente por Pedro Álvares Cabral, em 1500, e assim se manteve até que na sequência da Guerra Peninsular e das Invasões Francesas ordenadas por Napoleão Bonaparte a várias países, entre os quais, Espanha e Portugal, havia o risco de Portugal perder a sua independencia se a família real, fosse aprisionada ou morta pelos franceses.

Então surgiu a decisão do Rei e sua família, acompanhados por cerca de 15.000 Portugueses, emigraram em massa para o Brasil, para estarem a salvo de Junot e dos seus soldados. Uma armada colossal saiu de Lisboa, composta por cerca de 25 navios marcantes, escoltados pela Marinha de Guerra de Portugal e da Inglaterra, velha aliada e garantia do sucesso da operação.

Chegados ao Rio de Janeiro, estabeleceram-se e começaram a governar Portugal á distância. Mas naqueles tempos as comunicações demoravam o tempo que um navio levava a atravessar o oceano, com as cartas a bordo e muitas decisões tinham que ser tomadas na hora.

Em Lisboa tinha ficado uma Junta de Regencia, que o general Junot mal chegou dissolveu e começou a governar como entendia. Mas um grupo de cidadões no Porto, revoltou-se e desse movimento saiu a Revolução Liberal do Porto, cujos dirigentes pediram o regresso do Rei a Portugal.

Quando chegaram as notícias ao Brasil, D. João VI, resolveu regressar, deixando como regente do Brasil, o seu filho, o príncipe herdeiro, D. Pedro de Alcantara.
As notícias desta revolução e os seus ideias de liberdade, tiveram diversas repercussões não só em Portugal, como na Madeira e nos Açores, mas especialmente, nas províncias do Brasil, onde cada governador reagiu consoante as suas convições e em particular, na defesa dos seus interesses.

Havia dois partidos principais, um dos radicais que era a favor da independencia total do Brasil e da democratização da sociedade, cujos líderes eram Joaquim Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira, Outro partido era a favor da colaboração com Portugal e o seu chefe era José Bonifácio da Silva. Mas em Portugal mantinham-se no governo os conservadores e as ordens que chegaram ao Rio de Janeiro, emanadas pelas Cortes, exigiam o regresso imediato de D. Pedro a Portugal, a extinção da regencia e dos Tribunais e a volta do Brasil á condição de colónia.

Perante as ordens do Rei e do Governo, D. Pedro preparou-se para obedecer. Mas no Brasil ele já era visto como o simbolo da independencia, o garante das liberdades e da nova ordem. No dia 9 de Janeiro de 1822, um abaixo-assinado que havia sido efectuado entre o povo do Rio de Janeiro foi entregue ao príncipe pelo Senado da Câmara da cidade, pedindo-lhe para permanecer no Brasil.

Perante isso, D. Pedro resolveu desobedecer ás ordens do Rei e permanecer no Brasil, tendo pronunciado a celébre frase: Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Digam ao povo que fico!". Este episódio tornou-se conhecido como o "Dia do Fico"

Mas embora D. Pedro tenha ganho grande apoio popular com esta decisão de ficar, em Portugal continuavam a insistir pelo seu regresso e a mandar-lhe ordens e decretos para cumprir. Então D. Pedro deu mais um passo para a independencia ao decidir que as ordens e decretos só teriam valor e poderiam ser aplicados, depois de ele assim o decidir, apondo a sua assinatura e a ordem “Cumpra-se!”.

Enquanto em Portugal se exigia a volta do Príncipe, no Brasil, as duas principais facções e os seus chefes lutavam para influenciar o princípe a manter os seus previlégios de classe, uns no sentido da liberdade social, outros para manter as benesses da aristocracia rural e da escravidão.

Em finais de Agosto desse ano, o princípe teve que se deslocar á província de S. Paulo, para acalmar uma rebelião contra José Bonifácio da Silva e no regresso a 7 de Setembro, parou para descansar nas margens do ribeiro do Ipiranga.

Foi aí que os mensageiros, o foram encontrar para lhe entregaram novas cartas, uma do Rei e das Cortes voltando a exigir o seu regresso, outra de José Bonifácio, aconselhando-o a romper com Portugal e uma terceira da sua esposa, D. Maria Leopoldina de Austria, incentivando-o a aceitar os conselhos do ministo, dizendo que “os pomos estão maduros, deves colhê-los antes que apodreçam”.

Perante isto, D. Pedro resolveu ali romper definitivamente com Portugal, proclamando a independencia do Brasil, tal como já explicado no início desta peça.

Hoje em dia, comemora-se o “Feriadão” com desfiles e festas em várias cidades, mas quantos brasileiros conhecem a história da sua nação e sabem como as coisas se passaram?

Então convido a todos a reflectirem e passaram aos seus filhos os valores para uma nova ordem e independencia em todos os níveis, da maior nação da América Latina, que orgulhosamente deve liderar os seus vizinhos, rumo ao futuro, com justiça e igualdade.

Arlete Piedade
A independência do Brasil

Declarada por Dom Pedro

O primeiro imperador

Foi em sete de setembro

De mil oitocentos e vinte e dois

Num dia com muita luz

Vento brando e audaz

Independente o Brasil se faz!

A partitura poderá ser baixada em: Festas.

quarta-feira, setembro 01, 2010

TU E EU E O RELÓGIO PARADO

Amor os dias são cada vez mais longos

E aquele relógio que dava hora

Está totalmente parado agora

E eu... sinto falta dos nossos diálogos!



Já não recordas do relógio?

É ele que me acompanha

Tu o compraste naquela campanha

Da loja da esquina, a do Gregório!



Nunca ia a lado nenhum sem ti

Estávamos sempre juntos os dois

Talvez nem lembres... pois

Da alegria que na altura senti!



Nem tudo era cor de rosa

Mas vivíamos juntos todos os momentos

As vezes com os nossos lamentos

Outras vezes numa felicidade primorosa!



Sei que são da vida as contingências

A tua saúde exige a nossa separação

Mas é grande a falta no coração

E os meus ciúmes com suas exigências....



Tenho ciúmes amor, muito ciumes, te juro

Imagina que até do relógio também

Como ficaria a ti esperar tão bem

Se parado estivesse como ele… no escuro...



É verdade quando vieres traga uma pilha

(o relógio vai querer acordar e contigo

Sorrir e dar horas e minutos, que comigo

Ele fechou-se que nem um desértica ilha)



Tenho que te deixar querida e meu amor

Vou trabalhar, ficas no quadro sobre a mesa

E levo-te no coração comigo é uma promessa

Vais me acompanhar e moderar o meu humor!



E a noite quando cansado regressar

E cheio de saudades te ligar pelo telefone

Sabe, não terei outra qualquer fome

Senão de te atender e ouvir e escutar



E cansado irei descansar, mas te levarei

A tua fotografia no quadro, aquele quadro

Podes achar e com razão que sou “malandro”

Mas sozinho, juro-te amor, jamais dormirei !





João Furtado


Praia, 01 de Setembro de 2010