quarta-feira, dezembro 05, 2012

UM CONTO DE NATAL




É habitual nesta quadra natalícia, os escritores e poetas, darem o seu contributo para o espírito da época, escrevendo contos e poemas de Natal, que geralmente têm um final feliz, em que os pobres ficam menos pobres, os doentes mais saudáveis, os misantropos mais abnegados e por aí fora...tudo com um cheirinho de milagre.
Mas nestes tempos em que vivemos, tanto num contexto espiritual em que se fala no fim do mundo - ou pelo menos de um determinado mundo caduco - como num contexto global em que países que há algumas décadas eram considerados atrasados, estão a dar cartas no jogo das influências universais especialmente a nível económico, assim como no contexto europeu em que a Alemanha ganha protagonismo como lider de um grupo de países que há séculos convivem num mesmo espaço, guerreando entre si, mas condenados a entenderem-se, e por último, no contexto do nosso país mergulhado na crise que sendo sua, é da Europa e do mundo - já não falando dos que estão virados para o conceito lusófano e para os países que sendo uma espécie de filhos ou pelo menos enteados, agora poderiam acudir ao velho pai - digo nestes tempos que alguns outros consideram pré-apocalipticos, ainda será lícito esperar ou pelo menos acreditar que há milagres que nos possam salvar?
Quando eu era uma jovem estudante, melhor uma pré-adolescente a iniciar os estudos, tive direito a estudar física - e digo direito, pois o meu filho mais novo conseguiu concluir o 12º ano de escolaridade com direito a um curso profissional de informática, incluido, sem nunca ter estudado as mais elementares leis da física - e recordo-me muito bem, da lei dos vasos comunicantes, e da figura que a ilustrava no nosso livro de física, e até de algumas experiências que faziamos no laboratório de física. Eu gostava muito dessas aulas, talvez por isso não tenha esquecido e agora ache certas semelhanças entre o desenvolvimento económico e social dos países do oriente e do ocidente, e das condições de trabalho e de vida em que os povos desses países viviam há décadas e das mudanças em curso atualmente. Mas também não posso deixar de englobar nesses blocos, os países do hemisfério sul, nomeadamente África e América do Sul que também estão a recuperar dos atrasos económicos e sociais em que têm vivido mergulhados.
Se os países ocidentais considerados mais desenvolvidos, sendo os principais blocos, a Europa e a América do Norte, têm usufruido de melhores condições de vida, e melhores condições de trabalho, delapidando recursos que são de todos os povos do mundo e provocando a deterioração do clima e do ambiente, e representanto essa parte do mundo 20% da população mundial que consome 80% dos recursos mundiais em alimentos e energia, não haverá aqui um sistema de vasos comunicantes que tende a igualar-se?
Não será então lícito esperar-se que os povos mais prejudicados nesta divisão mundial de recursos, reclamem a sua parte por igual e assim os níveis tenham a tendência para se igualar dentro dos vasos?
Por mim penso que sim e mais, será imparável pois estamos a falar de vasos comunicantes ao nível do globo terrestre e não em experiências de laboratório.
Mas nem todos os líquidos são miscíveis, assim como as pessoas não podem ser tratadas todas da mesma maneira, pois não são números ou estatísticas, são seres humanos e a vida seja humana ou animal ou vegetal, tem que ser valorizada e respeitada, pois sem ela, o nosso planeta entrará numa era de máquinas e robots descrito em alguns livros de fição científica.
Se queremos um mundo humanizado, sustentável, de ambiente limpo e manhãs luminosas, tem que haver sempre oposição á lei cega que determina a junção dos líquidos em níveis iguais, pois a física é importante mas a humanidade é mais ainda.
Então embora conscientes que o futuro não se pode contrariar, temos que saber dirigir o rio da História, para evitar as inundações que podem arrastar povos cegamente no seu caminho desordenado e deixar ao nossos filhos - esta geração que enfrenta as ondas das mudanças de rumo das correntes - um mundo mais igualitário e mais justo em que uns têm que recuar um pouco, para que outros possam avançar e ocupar o lugar que lhes pertence por justiça fraterna.
Voltando ao título deste texto, qual será o milagre a esperar este Natal? Talvez recuperar e reocupar tantas casas vazias por esse Portugal, talvez voltar a recordar como se cultivam os campos abandonados, talvez sair para o mar e voltar a pescar os peixes que outros povos vêm pescar no mar das nossas costas, mas mais que isso, pedir ao Menino Jesus para nos trazer líderes capazes de governar o nosso país, sem se vergar ás exigências alheias, sabendo negociar com os outros povos as melhores condições para Portugal se reerguer, plantando os seus solos, pescando nos seus mares, produzindo os seus artigos nas suas fábricas, sem depender de povos estrangeiros para viver com dignidade neste cantinho á beira mar plantado.

Arlete Piedade



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