domingo, janeiro 25, 2015

CARMENCITA ERA A CIGANA MAIS LINDA DA CARAVANA


Como no fado de Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, Carmencita era uma cigana, mas do tempo presente. Era linda, mas já não andava na caravana. Vivia numa casa de um bairro social com a família toda, tinha dois irmãos mais velhos, e três irmãs mais novas. Ela era a mais velha das meninas, com 19 anos acabados de fazer. Era morena de longos cabelos negros, e ao contrário da sua mãe que vestia a tradicional saia comprida e justa das ciganas e vendia na feira, com o seu marido cigano, Carmencita, vestia mini-saia e calças justas. Queria ser uma jovem independente, por isso arranjou emprego num call-center, onde fazia telefonemas todo o dia, encantando os clientes com a sua voz cantante e fazendo uma boa soma em comissões ao fim do mês.
Até aqui os pais, embora contrariados, iam aceitando as ideias de Carmencita, á conta das modernices. O pior foi quando ela arranjou um namorado fora da raça, um português cliente do call-center que todos os dias lhe telefonava, querendo fazer compras, apenas para ouvir aquela voz encantada, longe de imaginar que pertencia a uma cigana. Francisco bem insistia e fazia convites, para beberem um café, para almoços, para jantares, mas Carmencita sempre respondia, que os pais não a deixavam frequentar cafés ou restaurantes. Então e um passeio no jardim? - Insistia o apaixonado Francisco. Costuma dizer-se que água mole em pedra dura, tanto dá até que fura e um dia Francisco conseguiu marcar um encontro. Mas ela não podia arriscar-se a ser vista, por algum membro da sua raça e aceitou ir até á casa dele.
Depois daquele primeiro dia, outros encontros se seguiram. Na casa do namorado, todos a respeitavam, ele vivia com a sua mãe viúva, uma irmã mais nova e a avó velhinha. Ficavam a beber chá com a avó, ou a ajudar a Sara, a irmã mais nova de Francisco, a fazer os deveres da escola. Mas um dia, o Paquito, que era um primo de Carmencita, a quem tinham prometido que casaria com ela, viu-a entrar na casa do Francisco, acompanhada com aquele rapaz de fora da raça, e foi logo falar com o Pepe, o tio, pai de Carmencita.
Mas a irmã mais nova, mandou uma mensagem para o telemóvel da mana, avisando o que se passava e dizendo para não vir para casa, porque estava desonrada e ia haver mortes.
Então Carmencita mesmo sem ter nunca feito amor com o namorado, sabia que a única solução para o casamento ser autorizado, seria fugirem juntos, apresentando o facto como consumado e avisando a família. Um vizinho de Francisco, rico comerciante e homem respeitado na vila, ofereceu-se para mediador e foi falar com Pepe. Ao fim de muitas conversas á volta da mesa, foi aceite o casamento, mas a partir desse dia, Carmencita, deixou de ser considerada de raça cigana, e integrou-se na vida da família e da vila, mantendo o seu emprego no call-center e passando a ser uma mulher independente, que cuidava da sua família, como todas as outras.

Arlete Piedade

Portugal

Amália Rodrigues, canta o Fado "CARMENCITA"




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